por Welington Duarte

professor do Departamento de Economia da UFRN e presidente do ADURN-SINDICATO

Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

A melhor forma de convencer os professores a tomar novos rumos, é o de fazê-los olhar para os dois Movimentos e se encontrar, se sentir acolhido.

Duas concepções de Movimento Docente se apresentam, nesse ano, aos professores universitários federais de norte a sul do país. Uma baseia-se na construção de estratégias e táticas que levam em consideração a diversidade e a pluralidade que representa, sem buscar esconder a matriz ideológica dos seus dirigentes; a outra baseia sua luta numa perspectiva de mundo em que o propósito é o de ser um protagonista revolucionário de um processo social, indo muito além do ela mesma é: um sindicato.

Uma concepção enxerga o Movimento Docente como um agregado de interesses corporativos, como em qualquer categoria de trabalhadores; de defesa da Educação Pública, pois entende que esta é a sua essência; de defesa da liberdade de ensinar, como um pressuposto de recusar uma intervenção na sala de aula; da defesa das universidades públicas federais, pois é seu ambiente de trabalho e em boa parcela, de vida; uma concepção que entende a luta política como um espaço em permanente construção e que exige flexibilidade tática.

Uma outra concepção enxerga o Movimento Docente como um corpo revolucionário, em que o trabalhador tem na sua representação uma espécie de “corpo especializado”, que contribui para a construção de um “processo revolucionário” em curso; que rejeita a pluralidade com uma tendência, quase natural, de expurgar quem pensa diferente, pois este representa um perigo “para a unidade de ação”; que se apresenta como um “lutador” permanente contra os governos e cujo diálogo se expressa pelo “eu exijo”, “eu quero” e com a ameaça constante de greves “por tempo indeterminado”, que atraiu, ao longo dos anos, a crítica dos alunos e da sociedade; que enxerga a luta política como uma constante busca pela “tomada de poder”, com o claríssimo objetivo de “derrotar os inimigos de classe” (sic).

Acusa-se o primeiro movimento de ter sido forjado pelo PT e que é “dócil” e “pelego”, mas foi esse movimento que criou a classe de Professor Associado; que lutou por uma nova carreira e pelo fim dos penduricalhos no contracheque e que, vivenciando uma profunda mudança na sua base social, defendeu que o professor tivesse sua titulação retribuída; que criou a carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT), contra, inclusive o SINASEFE, hoje um dos aliados do segundo Movimento.

Foi esse movimento, nascido em 2004, ao perceber que a natureza democrática da associação fundada em fins dos anos 70, perdera-se no endurecimento quase religiosa de sua postura estratégica, forjando táticas completamente distantes do professor que labuta diariamente, que pretendeu ser algo diferente, de buscar a heterogeneidade como sua força e como seu princípio.

Foi esse movimento, tornado FEDERAÇÃO, em 2012, que ergueu um Movimento Docente cuja base é o SINDICATO independente, soberano e propositivo, que tem como poder a sua capacidade de ser um corpo dirigente, que tem identidade ideológica, mas que reconhece seu papel e seu lugar no movimento, o que significa ter alta sensibilidade para lidar com os contrários, mesmo os mais antagônicos.

Esse Movimento Docente, ainda em construção, está buscando convencer os professores que o anacronismo de uma “mobilização permanente” tornou o outro movimento enrijecido, envelhecido e inapropriado ao que temos hoje. E a melhor forma de convencer os professores a tomar novos rumos, é o de faze-los olhar para os dois Movimentos e se encontrar, se sentir acolhido. 

Esse Movimento Docente, expresso numa FEDERAÇÃO, já está na ofensiva de negociar com esse governo, mesmo que isso signifique ir contra todos os princípios ideológicos de muitos dirigentes dos sindicatos que a formam, mas é uma necessidade imperativa para que, nessa tempestade, não sejamos levados pela correnteza e que se possa dar aos professores uma mínima proteção aos tempos sombrios que virão.

E quanto ao outro Movimento Docente, não preciso fazer nenhuma colocação, pois a história e os fatos recentes falam por si só.

A Federação é o caminho menos tortuoso para o Movimento Docente, mas pode-se escolher permanecer no “trem revolucionário”, mas este está descarrilhado há muito tempo.

Welington Duarte é professor do Departamento de Economia da UFRN e está presidente do ADURN-SINDICATO

 

 

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