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Quinta-feira, 26 de março de 2020

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Professores da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS lançam manifesto com 32 sugestões de diretrizes e medidas de combate à pandemia do corona vírus e para a recuperação da economia. Os professores destacam as medidas contundentes que vêm sendo adotadas nos países em que a pandemia atingiu níveis mais graves e chamam a atenção para a necessidade de o Brasil seguir os mesmo passos, abandonando a timidez e mobilizando amplos recursos dos setores público e privado no imediato combate à crise. Não é hora para inação. O manifesto inclui medidas imediatas para suporte ao setor da saúde, medidas de sustentação do emprego e da renda no curto prazo enquanto durar a pandemia, medidas para assegurar disponibilidade de serviços de utilidade pública e habitação enquanto durar a pandemia, medidas de apoio a empresas fortemente atingidas pela pandemia e de garantia do abastecimento dos bens de primeira necessidade e medidas para recuperação e sustentação da economia.

Consulte o documento abaixo (pdf – atualizado em 25/03). Novos apoios de professores universitários de qualquer área ou instituição estão sendo recebidos pelo comunicafce@ufrgs.br.

A Crise do Corona Vírus e a Economia Brasileira: contribuições para mitigar os efeitos sobre a sociedade brasileira
Manifesto dos professores da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FCE/UFRGS)

A Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FCE/UFRGS), por meio das(os) docentes signatárias(os) deste manifesto, vem à público colocar à disposição das sociedades sul-rio-grandense e brasileira conhecimentos acumulados por seu corpo docente em prol da construção de alternativas para a mitigação da grave crise em curso.

Mapeamos iniciativas já tomadas por governos de países mais fortemente atingidos pela crise a fim de fazer conhecer as estratégias em curso e contribuir com a discussão do caso brasileiro. Tendo este quadro internacional em vista, e sem desconsiderar as políticas já anunciadas pelo governo federal, apresentamos sugestões complementares emanadas deste corpo docente.

Os signatários formam um grupo heterogêneo, que reúne professores ativos e aposentados com diferentes compreensões teóricas e afinidades políticas, refletindo o caráter acadêmico plural da Faculdade. Juntos, buscamos o necessário consenso sob a premissa de que a inação aprofundará a crise e que, portanto, é necessário reconhecer as condições excepcionais que a pandemia nos impôs, sendo inadiável agir de forma contundente para garantir o futuro.

Reações internacionais à pandemia COVID-19 (Corona vírus)

Antes da crise

A economia global vinha crescendo de forma contida e instável na década que se seguiu à crise financeira de 2008-2009 e à Grande Recessão. Naquele momento e nos anos que se seguiram, os bancos centrais das principais economias de alta renda e de alguns países emergentes adotaram políticas fortemente expansionistas: as taxas de juros de curto prazo foram reduzidas para zero ou mesmo para níveis negativos e foram adotados programas de expansão quantitativa dos balanços dos bancos centrais. Em apenas um decênio, os quatro maiores bancos centrais (EUA, área do Euro, Japão e China) ampliaram a base monetária em US$ 15 trilhões.

Tais iniciativas evitaram o agravamento do colapso financeiro, por um lado, e relançaram novos ciclos de expansão de preços de ativos financeiros, de commodities até ações, por outro. Porém, a política monetária isolada, na ausência de um esforço fiscal de ampliação de investimentos em infraestrutura e recursos humanos, engendrou um quadro assimétrico, de euforia financeira, mas sem crescimento mais robusto do emprego e da renda nas economias então mais atingidas pela crise financeira global e a subsequente Grande Recessão dela derivada.

Os eventuais momentos de melhoria não se revelaram duradouros e acumularam-se desequilíbrios diversos, particularmente o excesso de endividamento de empresas e de famílias, a falta de investimentos produtivos e o baixo crescimento do emprego e das rendas do trabalho. Mais recentemente, as tensões entre Estados Unidos e China prejudicaram ainda mais o cenário externo, com efeitos deletérios no comércio global.

Portanto, o que já não era animador, agora tende a ficar pior. A expansão do PIB global, ao redor de 3% em 2019, poderá terminar 2020 em 1% ou 2%, se não menos, a depender da evolução da crise e das respostas governamentais. Somente no caso chinês, as projeções atuais da OCDE sugerem uma perda potencial entre 1 e 2 pontos percentuais na expansão da renda em 2020, o que pode comprometer algo como 0,2 a 0,4 ponto percentual do PIB em nível internacional.  No caso do Brasil, o nível de atividade segue abaixo do observado em 2014, com variações anuais de pouco mais de 1% na média dos últimos três anos. Tal valor é dramaticamente menor do que a média já pífia de 2,5% a.a. verificada nos últimos 35 anos.

É neste cenário bastante adverso que os atores privados e públicos estão tomando decisões cujas repercussões se darão plenamente ao longo dos próximos meses. Para combater a pandemia, reconquistar a confiança de consumidores e investidores e sinalizar para a recuperação efetiva das economias no longo prazo, os governos parecem ter iniciado um movimento de ruptura com a inércia das políticas prévias.

A pandemia e a economia global

A pandemia do COVID-19 eclodiu na China, economia que atualmente responde por 15% da renda global, 20% da produção de bens físicos – agrícolas e industriais –, 10% do comércio, e algo entre 8% e 9% do fluxo de turistas e do investimento direto estrangeiro. A economia chinesa é grande e muito integrada aos circuitos globais de produção e comércio. O país é um importante comprador de alimentos, energia e minerais, e sua desaceleração atinge fortemente seus fornecedores, como o Brasil.

A partir da crise chinesa desdobraram-se efeitos sobre a produção e o comércio internacional, bem como sobre a confiança de consumidores, empresas e investidores. O efeito-dominó sobre os mercados financeiros ampliou-se com a disseminação global da pandemia, em processo que ainda não atingiu seu ápice. Observou-se, então, uma queda generalizada nos preços dos ativos de renda variável (ações, commodities etc.), elevação nos custos de captação de recursos de curto prazo nos mercados interbancários, fuga de capitais em países emergentes, desorganização de cadeias produtivas dependentes de fornecedores chineses e queda adicional das exportações e dos fluxos de turismo, dentre outras consequências.

A crise tem múltiplas dimensões, todas graves e com desdobramentos que ainda não estão totalmente claros. Governos das principais economias avançadas, emergentes e em desenvolvimento estão adotando medidas de grande magnitude, que manifestam, também no plano econômico, a percepção de que o momento atual exige ações contundentes.

Tais governos apresentam distintas orientações políticas e ideológicas, têm diferentes trajetórias históricas e se organizam a partir de balizas institucionais e culturais que não necessariamente convergem. Porém, a despeito desta diversidade, e das soluções diversas então engendradas, sobressai a atuação estatal direcionada aos efeitos primários e secundários desta pandemia.

Os efeitos primários estão diretamente ligados: (i) ao esforço de atenuar a curva epidemiológica por meio de suspensão de atividades não prioritárias e que geram grande contato social; e (ii) à adoção de medidas de reforço dos sistemas públicos de saúde, bem como a forte orientação pública quanto ao uso dos recursos privados neste setor crucial.

Os efeitos secundários envolvem mais diretamente a economia no que se refere à capacidade de reprodução normal da vida social. Nas modernas sociedades de mercado, a sobrevivência dos indivíduos depende do bom funcionamento de diversas cadeias econômicas, que se estendem da produção ao fornecimento de bens e serviços. Para evitar a ruptura de partes essenciais de relações complexas, bancos centrais e governos estão anunciando medidas que garantem: acesso à liquidez com taxas de juros próximas a zero e limites de crédito muito mais elevados do que em momentos normais; (ii) reprogramação de prazos para o recolhimento de impostos, especialmente de empresas de menor porte; e (iii) ampliação dos instrumentos de apoio às camadas de menor renda e que estão mais vulneráveis às oscilações de preços de bens e serviços. O próprio Fundo Monetário Internacional recomenda um conjunto convergente de medidas e defende a atuação contundente e coordenada dos governos.

As iniciativas enumeradas abaixo refletem a realidade de países que possuem maior homogeneidade social e estruturas econômicas e políticas mais sólidas. Esta não é a realidade em países como o Brasil. Aqui, como em outros países emergentes e em desenvolvimento, o esforço de apoio aos segmentos mais frágeis da sociedade deverá ser redobrado, bem como as iniciativas de recuperação para o futuro.

São exemplos de medidas já anunciadas nos países de alta renda:

Política monetária e creditícia: redução de juros e aumento das linhas de assistência dos Bancos Centrais

a) O FED, banco central dos EUA, reduziu sua taxa básica de juros para a faixa de 0,0% – 0,25%, tal como na crise de 2008-2009, e comprará US$ 500 bilhões em títulos públicos e US$ 200 bilhões em títulos hipotecários nos próximos meses. Ademais, criou linhas de crédito a juros próximos de zero, por até seis meses (prorrogáveis) para que os bancos repassem às empresas e famílias em dificuldades.
b) Outros bancos centrais estão reduzindo suas taxas de juros (Reino Unido, Austrália, Canadá, Noruega), em alguns casos para níveis entre 0% – 0,5%. Também estão anunciando programas de compras de títulos – públicos ou privados – para evitar a queda maciça de seus preços com efeitos deletérios sobre instituições financeiras e investidores individuais.
c) O Banco Central Europeu opera com taxas nominais negativas (-0,5%), pelas quais os bancos é que pagam juros sobre as suas reservas líquidas. Por enquanto, não anunciou redução adicional nos juros. Seu foco é ampliar dois programas estratégicos de estímulo aos bancos para manterem linhas de crédito às empresas e de compra de títulos.


Política fiscal: flexibilização de regras fiscais, proteção de famílias e empresas em dificuldade

a) No caso europeu, governos nacionais e a União Europeia estão desenhando e introduzindo medidas cada vez mais amplas de apoio fiscal. O Eurogroup, entidade que reúne os Ministros de Finanças, anunciou, no dia 16 de março, medidas de esforço fiscal adicional de 1% do PIB regional (€ 200 bilhões) para estímulo de curto prazo e de 10% do PIB (€ 2 trilhões) para manutenção da liquidez, como apoio ao adiamento de pagamentos de impostos e provisão de garantias diversas. Esses recursos devem priorizar o fortalecimento e financiamento dos sistemas de saúde pública e o crédito para as pequenas e médias empresas.
b) O governo da França anunciou que fará o que for necessário para evitar a quebra das empresas por conta da crise. Em pronunciamento recente, o presidente Macron declarou que “Nenhuma empresa francesa, de qualquer tamanho, será exposta ao risco de colapso”. Medidas como acesso ao crédito e dilatação de prazos de pagamento de impostos e de serviços de utilidade pública (água, luz etc.), dentre outras, podem envolver centenas de bilhões de euros. Os governos de Espanha (€ 200 bilhões), Alemanha (€ 500 bilhões) e Reino Unido (£ 330 bilhões) avançam na mesma direção em suas medidas iniciais.
c) O governo federal dos EUA encaminhou medidas de apoio às empresas e famílias que somam US$ 850 bilhões e que dependem de aprovação do congresso. Todavia, há muita divergência em torno da política de proteção à saúde dos indivíduos atingidos pela pandemia, na medida em que, diferentemente do que é usual nos países europeus, os Estados Unidos não possuem um modelo de saúde pública, gratuita e universal.
d) Adotaram-se políticas setoriais voltadas aos segmentos mais atingidos pela crise, particularmente aviação, turismo e automotivo. Nacionalizações não são descartadas, mesmo que temporárias, como ocorreu na crise de 2008-2009. Em breve, é muito provável que novas medidas sejam anunciadas para evitar a falência generalizada de empresas automotivas, companhias aéreas e prestadores de serviços vinculados ao segmento de turismo.

O cenário global, que já indicava baixo crescimento e problemas diversos antes da crise, tende a piorar. Isto implica a necessidade de se atuar imediatamente para: (i) conter a tragédia humana representada pela pandemia; (ii) preservar empresas, empregos e renda; e (iii) proteger as camadas sociais mais vulneráveis. Quanto mais profundos e duradouros forem os impactos econômicos da crise, mais eficiente e atenta deverá ser a atuação estatal, que virá ancorada com os esforços privados.

Assim como em uma guerra, trata-se em primeiro lugar de se garantir a vitória e, em segundo lugar, de reconstruir as bases de funcionamento da sociedade. Horizontes e custos devem ser percebidos nestas dimensões. Eventuais flexibilizações e ampliações de gastos no curto prazo vão gerar efeitos fiscais, como o aumento da dívida pública, cujo equacionamento deverá se dar ao longo do tempo.

Ao se comparar a experiência atual com outros momentos de maior gravidade, como na crise de 1929, nos períodos que se seguiram às duas grandes guerras mundiais ou, mais recentemente, quando da crise financeira de 2008-2009, cabe lembrar que as políticas escolhidas para o enfrentamento dos problemas de curto prazo geram efeitos para o futuro. Assim, por exemplo, as respostas à crise financeira global produziram menos crescimento, mais desigualdade e uma crescente insatisfação das populações com as instituições políticas liberais e democráticas. Não sem razão, estas têm sido acusadas de favorecer somente as camadas de alta renda, em detrimento do conjunto da população.

Ainda é cedo para avaliar o que acontecerá a partir da pandemia do COVID-19, mas podemos sinalizar para dois cenários gerais. Um primeiro cenário em que, após as medidas de socorro mais imediatas, os governos retornem ao “mais do mesmo” e optem pela adoção de políticas convencionais de consolidação fiscal. Estas onerariam as classes baixas e médias, pois estão associadas à perda de vitalidade na oferta de serviços públicos gratuitos e universais (saúde, educação, pesquisa científica, proteção do meio ambiente, cultura etc.) e à tributação regressiva (quem ganha mais paga proporcionalmente menos da sua renda) que protege o patrimônio e as rendas mais elevadas. Temas estruturais como a tributação de ganhos financeiros – das novas empresas de serviços de alta tecnologia e de paraísos fiscais, para citar alguns – e maior regulação das finanças seguiriam à margem das políticas públicas.

Um segundo cenário seria o da percepção de que a coesão social e a proteção dos indivíduos deveriam voltar ao centro de atenção das políticas públicas. Com isso, abrir-se-ia a possibilidade do redesenho das formas de gasto público e do seu financiamento. A experiência do pós-segunda guerra, especialmente na Europa, é uma referência útil neste sentido. Todavia, a mesma precisa ser renovada, tendo em vista aspectos como a maior integração global das economias, o crescimento e o envelhecimento das populações, os efeitos das novas tecnologias (robotização, inteligência artificial etc.) sobre o mundo do trabalho e as mudanças climáticas. Todos estes temas já têm sido objeto de reflexão e não faltam sugestões práticas de novas formas de políticas públicas – como a criação de mecanismos de renda universal não condicional – e de seu financiamento. Mais do que uma questão técnica, o segundo cenário depende de mudanças políticas, cujos horizontes se abrem com a crise do COVID-19.

Sugestões para a economia brasileira: agir para garantir o futuro

A realidade brasileira é diversa e desafiadora. O país vem de uma trajetória longa de crescimento baixo e instável, que se agravou nos últimos cinco anos. Os impactos sociais deste contexto já se faziam sentir antes da crise do COVID-19, com a elevação nas taxas de desemprego e na pobreza e deterioração na distribuição da renda. As repercussões do baixo dinamismo da economia sobre a situação fiscal dos governos em todos os níveis foram se agravando, o que ampliou o constrangimento para os investimentos públicos em infraestrutura física e social.

A crise eclode em um momento extremamente desfavorável. Os sistemas de saúde pública e proteção sanitária, bem como as áreas de pesquisa científica básica e aplicada, estão sendo extremamente demandados no mundo e o serão no Brasil. As empresas e famílias, já pressionadas por dificuldades de caixa, terão meses difíceis pela frente.

Por outro lado, o Brasil tem instituições, públicas e privadas, que já foram testadas em momentos de crise, como em 2008 e 2009 ou durante a disseminação do vírus H1N1, e que se mostraram capazes de mitigar os efeitos internos de cenários globais adversos. Há um leque de experiências de políticas sociais e de crédito que foram muito bem-sucedidas e um histórico de atuação eficiente de órgãos vinculados à saúde e à segurança sanitária. Tais competências estatais precisam ser mobilizadas ativamente, tanto no curto prazo, quanto nos anos que se seguirão.

Com o propósito de mitigar os efeitos imediatos da pandemia e permitir uma rápida retomada da atividade econômica, sugerimos, sem a pretensão de sermos exaustivos e com o devido ajuste a fim de evitar sobreposição de iniciativas, que os governantes considerem as 32 diretrizes e medidas sinalizadas a seguir:

Medidas imediatas para suporte ao setor da saúde

Disponibilizar recursos novos, e não apenas por remanejamento de rubricas do orçamento, no montante necessário ao eficaz combate da pandemia pelo sistema de saúde.
Adotar estímulos governamentais de demanda – compras de equipamentos, kits de testes e outros produtos, etc. – ao complexo industrial de saúde e às instituições e laboratórios da área de saúde.
Adotar estímulos governamentais de oferta – forte aumento dos investimentos e contratações emergenciais de pessoal, inclusive a contratação de estudantes da área de saúde que estejam cursando o último ano de sua graduação – ao complexo industrial de saúde e às instituições e laboratórios da área de saúde.
Realizar compras e celebrar acordos internacionais para a provisão adequada de produtos de saúde.
Reconverter, eventualmente, empresas para a produção de bens de saúde, como respiradores, kits de testes e outros.
Adaptar locais como navios da marinha, hotéis e outros para fins de atendimento médico, descongestionando setores emergenciais dos hospitais.
Disponibilizar obrigatoriamente, se necessário, toda a capacidade instalada de serviços de saúde nos setores privado e público.
Transferir recursos às secretarias estaduais e municipais de saúde para fins de ampliação de UTIs em antecipação ao pior cenário de evolução da pandemia.
Prover assistência especial, inclusive financeira, aos profissionais da saúde.
Aplicar formas de proteção específica a moradores de aglomerados insalubres – ampla orientação sobre medidas de prevenção, capacitação urgente de agentes comunitários de saúde e de assistentes sociais para proteção do COVID-19, fornecimento gratuito de EPIs (máscaras etc.).


Medidas de sustentação do emprego e da renda no curto prazo enquanto durar a pandemia

Adotar iniciativa de sustentação da renda para empregados do setor privado, com postergação do recolhimento de impostos.
Conceder empréstimos com prazos dilatados e com juros zero para a manutenção de pequenos empreendimentos e seus postos de trabalho, a ser rapidamente operacionalizada pela rede de bancos públicos.
Induzir as empresas a conceder licenças remuneradas aos trabalhadores, com subsídio público e manutenção da renda, dando especial atenção às trabalhadoras com responsabilidades na provisão de cuidados de crianças, idosos e enfermos e em afazeres que sustentam o cotidiano das familiais brasileiras.
Conceder isenções fiscais a trabalhadores autônomos e microempresários.
Instituir programa de renda básica universal no valor de um salário mínimo mensal de modo a atingir 50% da população, com particular atenção às trabalhadoras informais sobrecarregadas com encargos familiares e especialmente vulneráveis nesse momento.
Ampliar o valor do bolsa família em 20 %.
Suspender o pagamento das dívidas dos estados por quatro meses e, nos casos mais graves, garantir recursos a que estados paguem os salários de seus servidores em dia.


Medidas para assegurar disponibilidade de serviços de utilidade pública e habitação enquanto durar a pandemia

Suspender o pagamento de serviços de utilidade pública como energia, água, gás e telecomunicações.
Suspender os cortes de fornecimento por falta de pagamento nos serviços de utilidade pública como energia, água, gás e telecomunicações.
Suspender as execuções hipotecárias e os despejos por não pagamento de alugueis, inicialmente pelo período de seis meses.


Medida de apoio a empresas fortemente atingidas pela pandemia e de garantia do abastecimento dos bens de primeira necessidade

Conceder isenções fiscais e dilatação de pagamento de tributos para pequenos negócios diretamente atingidos pela pandemia.
Criar linhas de crédito para micro e pequenas empresas e microempreendedores individuais, com baixo custo e prazos adequados, condicionando as empresas a manterem os empregados.
Monitorar de modo permanente as condições de produção e abastecimento de bens de primeira necessidade, especialmente quando direcionados à população carente.


Medidas para recuperação e sustentação da economia

Intervir fortemente no mercado de câmbio, usando métodos eficazes para sustar a sangria de reservas.
Instituir imposto sobre lucros dos bancos e elevar excepcionalmente a cobrança de impostos sobre ganhos em operações day trade, sem prejuízo de outras medidas tributárias que não penalizem a produção e a população de menor renda, a fim de mitigar os efeitos sobre o erário público dos custos associados ao gerenciamento dos efeitos da pandemia.
Ampliar o nível dos investimentos públicos, sobretudo em infraestrutura e energia, a fim de mobilizar recursos produtivos ociosos em decorrência da crise.
Realizar programa amplo de investimento em saneamento a fim de atender a totalidade da população brasileira em prazo definido, com mobilização de recursos públicos e privados.
Retomar a atuação do BNDES como indutor e agente financiador de investimentos privados em formação de capital fixo com condicionalidades à geração e/ou manutenção de empregos.
Reativar o BNDESPar com ênfase de atuação em setores geradores de emprego, inovadores e de infraestrutura.
Ampliar a atuação da FINEP como indutor e agente financiador de investimentos públicos e privados em inovação.
Revogar a chamada “lei do teto” (EC 95) dos dispositivos constitucionais e promover, após a superação da crise, ampla rediscussão em âmbito infraconstitucional conjuntamente a uma reforma tributária.
Suspender a tramitação da chamada “PEC emergencial” e de demais medidas que implicariam fortes restrições ao combate à pandemia e à recuperação da economia brasileira.


Os abaixo assinados manifestam, ainda, seu profundo reconhecimento aos profissionais de saúde brasileiros, em especial os atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS), pelos esforços empreendidos no atendimento à população neste momento desafiador.

Porto Alegre, RS, 20 de março de 2020.

Assinam os seguintes professores da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS (lista atualizada em 25 de março):

Carlos Henrique Vasconcellos Horn
Doutor (Ph.D.) em Industrial Relations, London School of Economics and Political Science
Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas

Maria de Lurdes Furno da Silva
Doutora em Economia, UFRGS
Vice-Diretora da Faculdade de Ciências Econômicas

Achyles Barcelos da Costa
Doutor em Economia, UFRJ, e Professor titular aposentado

Alessandro Donadio Miebach
Doutor em Economia, PUCRS

Ana Lúcia Tatsch
Doutora em Economia, UFRJ

André Luiz Reis da Silva
Doutor em Ciência Política, UFRGS

André Moreira Cunha
Doutor em Ciência Econômica, UNICAMP

Andrés Ernesto Ferrari Haines
Doutor em Economia, UFRGS

Ario Zimmermann
Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais, FCE/UFRGS

Carlos Guilherme Adalberto Mielitz Neto
Doutor em Economia, UNICAMP

Carlos Schönerwald
Doutor (Ph.D.) em Economia, University of Utah

Caroline de Oliveira Orth
Mestre em Ciências Contábeis, Unisinos

Cláudio Francisco Accurso
Mestre em Economia, Escolatina, Chile

Daniela Dias Kühn
Doutora em Desenvolvimento Rural, UFRGS

Duilio da Avila Bêrni
Doutor (Ph.D.) em Economia, University of Oxford

Eduardo Ernesto Filippi
Doutor em Economia Política, Univ. de Versailles St-Quentin-em-Yvelines

Eduardo Maldonado Filho
Doutor (Ph.D.) em Economia, The New School for Social Research

Everton da Silveira Farias
Doutor em Administração, UFRGS

Fabian Scholze Domingues
Doutor em Economia do Desenvolvimento, UFRGS

Fábio Kessler Dal Soglio
PhD em Fitopatologia, University of Illinois at Urbana-Champaign, Estados Unidos

Fernanda Ultremare
Doutora em Ciências Econômicas, UNICAMP

Fernando Ferrari Filho
Doutor em Economia, USP

Flávio Fligenspan
Doutor em Economia, UFRGS

Gabriela Peixoto Coelho de Souza
Doutora em Botânica, UFRGS

Gentil Corazza
Doutor em Economia, UNICAMP

Glaison Augusto Guerrero
Doutor em Economia, UFRGS

Glaucia Campregher
Doutora em Economia, UNICAMP

Glauco Schultz
Doutor em Agronegócios, UFRGS

Hélio Henkin
Doutor em Economia, UFRGS

Henrique Morrone
Doutor (Ph.D.) em Economia, University of Utah

Hermógenes Saviani Filho
Doutor em Economia, UFRGS

Janice Dornelles de Castro
Doutora em Saúde Coletiva, UNICAMP

João Armando Dessimon Machado
Doutor em Economia Agroalimentar, Universidade de Córdoba, Espanha

Júlio Cesar Oliveira
Doutor em Economia, UFRGS

Leandro Valiati
Doutor em Economia do Desenvolvimento, UFRGS

Leonardo Xavier da Silva
Doutor em Economia, UFRGS

Leonel Toshio Clemente
Doutor em Economia do Desenvolvimento, UFRGS

Lovois de Andrade Miguel
Doutor em Desenvolvimento Rural, INA-PG

Luiz Augusto E. Faria
Doutor em Ciências, UFRJ

Luiza Peruffo
Doutora (Ph.D.) em Política e Estudos Internacionais, University of Cambridge

Marcelo Antonio Conterato
Doutor em Desenvolvimento Rural, UFRGS

Marcilene Martins
Doutora em Teoria Econômica, UNICAMP

Marco Cepik
Doutor em Ciência Política, IUPERJ

Maria Aparecida Grendene de Souza
Mestre em Economia, UFRGS

Mauricio Andrade Weiss
Doutor em Teoria Econômica, UNICAMP

Octavio A. C. Conceição
Doutor em Economia, UFRGS

Paulo D. Waquil
Doutor (Ph.D.) em Economia Agrícola, University of Wisconsin

Pedro Cezar Dutra Fonseca
Doutor em Economia, USP

Ricardo Dathein
Doutor em Economia, UNICAMP

Róber Iturriet Avila
Doutor em Economia do Desenvolvimento, UFRGS

Ronaldo Herrlein Jr.
Doutor em Economia, UNICAMP

Rosa Angela Chieza
Doutora em Economia, UFRGS

Rumi Kubo
Doutora em Antropologia Social, UFRGS

Sabino da Silva Porto Júnior
Doutor em Economia, UFRGS

Stéfano Florissi
Doutor (Ph.D.) em Economia, University of Illinois

Silvia Regina Ferabolli
Doutora (Ph.D.) em Política e Estudos Internacionais, SOAS, University of London

Veronica Korber Gonçalves
Doutora em Relações Internacionais, UnB

Wendy B. W. Haddad Carraro
Doutora em Economia do Desenvolvimento, UFRGS

 

Professores de outras Unidades Acadêmicas da UFRGS e de outras universidades que apoiam o Manifesto (lista atualizada em 25 de março):

Alex Niche Teixeira
Doutor em Sociologia, UFRGS, e professor de graduação e pós-graduação em Sociologia e do Mestrado Profissional em Segurança Cidadã da UFRGS

Ana Leonor Chies Santiago Santos
Doutora em Astrofísica, Universiteit Utrecht, Países Baixos, e professora de Astronomia da UFRGS

Ana Zandwais
Doutora em Linguística, PUCRS, e professora de Letras da UFRGS

Analucia Vieira Fantin
Professora de Ciências Econômicas da UDESC

Andréa Fachel Leal
Professora dos Programas de Pós Graduação em Sociologia e em Políticas da UFRGS

Basilio Xavier Santiago
Doutor em Astromonia, MCT – Observatório Nacional, e professor de Astronomia da UFRGS

Clézio José dos Santos Gonçalves
Doutor em Educação e Neurociências, Universidade Metodista de Piracicaba, e professor de Educação Física da UFRGS

Denise Fagundes Jardim
Doutora em Antropologia, UFRJ, e professora de Antropologia da UFRGS

Emerson Giumbelli
Professora do Programa de Pós-Graduação em Antrpologia Social da UFRGS

Fabíola Rohden
Professora do Programa de Pós-Graduação em Antrpologia Social da UFRGS

Flávio Antônio Camargo Porcello
Jornalista e professor de Jornalismo da UFRGS

Francisco Marshall
Doutor em História Social, USP, e professor  da UFRGS

Gerson Roberto Neumann
Doutor em Ciências da Literatura, Freie Universität Berlin, e professor de Letras da UFRGS

José Eduardo Porcher
Doutor em Filosofia, UFRGS, professor de pós-graduação em Filosofia da UFSM e pesquisador de pós-doutorado, Rutgers Center for the Philosophy of Religion

Julimar da Silva Bichara
Professor da Universidad Autonoma de Madrid

Júlio Eduardo Rohenkohl
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM

Laura Bannach Jardim
Professora da Faculdade de Medicina da UFRGS

Luiz Felipe Santos Gonçalves
Médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de Medicina da UFRGS

Márcia Cristina Bernardes Barbosa
Doutora em Física, UFRGS, e professora do Instituto de Física da UFRGS

Maria da Glória Bordini
Doutora em Letras, PUCRS, e professora aposentada da pós-graduação em Letras da UFRGS

Maria Gabriela Curubeto Godoy
Médica e professora do Bacharelado de Saúde Coletiva da UFRGS

Orlando Martinelli
Doutor em Economia, Unicamp, e professor de graduação e pós-graduação na área de Economia da UFSM

Paulo André Niederle
Doutor em Ciências Sociais, UFRJ / CIRAD-Montpellier, e professor de pós-graduação em Sociologia e Desenvolvimento Rural da UFRGS

Rita Inês Paetzhold Pauli
Doutora em Economia, Unicamp, e professora de Ciências Econômicas da UFSM

Sergio Schneider
Doutor em Sociologia, UFRGS / Université Paris X, e professor de Sociologia e Desenvolvimento Rural da UFRGS

Søndre Camilla Schneck
Doutor em Ciências da Saúde, EEUSP, e docente da Escola de Enfermagem da UFRGS

Ulisses Franz Bremer
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, UFV, e professor de Geociências da UFRGS

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